No «estado de exceção», sem alarmes, os níveis de persecução dobram ao
infinitivo. O alvo somos todos nós. Nessa ameaça iminente viver é cada vez mais
perigoso. A vida e suas práticas, aqui ou em qualquer lugar, estão em risco. O
processo é sinistro, muito além do pesadelo de Josef K. Solidariedade a Edson Passetti
Em solidariedade a Edson Passetti encaminhamos abaixo assinado,
pedimos seu apoio. Segue o link: https://goo.gl/LrNiZt
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a insuportável produção de verdades –
em favor de Edson Passetti
Núcleo de
Sociabilidade Libertária Nu-Sol Brasil
Nesta semana
soubemos que nosso amigo Edson Passetti foi implicado num processo
administrativo, acionado por meio da principal tecnologia de fazer morrer nas
sociedades disciplinar e de controle: a delação. O que para muitos é fato
ordinário de uma vida judicializada que confunde isonomia com nivelamento tosco
pela lei, para nós é um acontecimento que expõe o atual estado das coisas na
universidade brasileira, em especial na PUC-SP.
O processo
administrativo movido pela atual reitoria desta universidade não desqualifica,
não diminui, tampouco enfraquece o Edson, apenas explicita a tentativa de
esmagar, aos poucos, a história política da PUC-SP na luta pela coexistência
com o diferente e da recusa em consentir com autoritarismos e arbitrariedades.
Mas não só: escancara o amor à cultura do castigo que sempre se inicia por
gestos minúsculos de uma força estúpida. Não desconhecemos nem ignoramos que
ninguém pesquisa, trabalha, produz ou se relaciona apartado do modo como toca
na vida.
Não cessamos de
aprender e descobrir com o Edson há mais de três décadas a leveza contundente e
a delicadeza firme deste homem raro e generoso com seus amigos, com os homens e
mulheres com quem anda e trabalha, com as pessoas com quem esbarra, com as
gentes que descobre, apresenta, fortalece, enfim, do vigor imprescindível ao
dia a dia que não se imiscui nem se confunde com trajetórias e itinerários dos
que primam pelos registros regulamentares. Como é possível que um professor
esteja exposto a isto em uma universidade?
Desnecessário expor
aqui o quanto e como Passetti é decisivo na PUC-SP, com 40 de anos de
universidade e quase vinte à frente da densa e volumosa produção do Nu-Sol.
Formou e forma incontáveis pesquisadores que hoje se encontram também em
diversas universidades de todo país como professores, pautando sua atuação pela
excelência acadêmica e a coragem na produção de verdades. Dentro da história de
práticas democráticas da PUC-SP, que hoje tentam reduzir a relicário ou mera
sombra do passado em contraste com o resplendor de uma democracia
procedimental, Passetti sempre soube o valor da isonomia e da isegoria na
eclésia, e insiste em lembrar da regra não inscrita e não institucional das
práticas democráticas: a parrésia, o falar francamente sob o risco de
impacientar a autoridade a qual se dirige. Longe de ser um elemento de
conservação ou preservação, isso dá vida às relações dos diferentes numa
democracia que não se quer refém do princípio republicano da lei.
Assim, implicar Edson Passetti num processo administrativo é revoltante para
nós. Pouco importa os termos da acusação e os procedimentos instaurados para
atribuição de culpa ou inocência. É um acontecimento que revela a estupidez na
qual a universidade se afunda. Outros processos (dentro e fora da PUC-SP)
poderiam ser lembrados, mas no momento nos interessa este. Ele nos diz quanto a
produção de verdades outras se tornou intolerável na universidade supostamente
tolerante.
São pequenas grandes
condutas institucionais, viabilizadas pela letra da lei, que dão provas de que
a universidade está indo por outro caminho que não o de espaço de invenção,
contestação, liberdade e produção de conhecimento apartada dos interesses
ordinários da Sociedade, do Estado e do Mercado. Mais do que a interceptação de
um certo estilo, modo de fazer e jeito de usar em pesquisa, ensino e extensão,
este processo é, para nós, inadmissível.
Inaceitável, ele é o
que também não tem nome. A língua não encontra uma palavra para ele, pois traz
o traço mais sombrio e carnífice da simulação e dissimulação que pretende nos
terrificar no presente.
Que os que moveram
este processo tenham a grandeza ou o gesto simples de reconhecer que ele jamais
deveria ter sido iniciado.
Que ele seja, então,
interrompido aqui.
Basta do amor
incondicional ao castigo e ao juízo que se arroga o poder de querer massacrar o
raro da vida em sua existência sempre fugaz. A vida é de queimar as questões.
Com Edson Passetti
aprendemos esse modo de fazer pesquisa com seriedade sem sisudez, o que implica
humor, riso e ironia. Trabalhamos como loucos para levar ao público nossa
produção, não porque somos determinados pelo trabalho, mas porque um
compromisso ético e estético nos move.
Esperemos que esse
processo seja episódico, embora ele jamais pudesse ter acontecido; que o
mal-entendido se desfaça e que não se perca o respeito que sempre existiu na
comunidade puquiana.
Até que este
processo ser retirado e incinerado e para que isto jamais se repita, o Nu-Sol
suspenderá suas publicações regulares semanais, quinzenais e mensais.
Fechamos com Edson
Passetti e não há pé de cabra que arrombe!
Se para você esse
processo também é inadmissível, expresse seu apoio público colocando seu nome
abaixo.
https://goo.gl/LrNiZt
Nu-Sol
Núcleo de
Sociabilidade Libertária
Este abaixo-assinado
será entregue para:
nu-sol@nu-sol.org