6/24/2013

MULTIDÃO: CONSTITUIÇÃO SELVAGEM DA CLASSE SEM NOME


26 / 06 / 19H - PUC/SP


com a presenças de Giuseppe Cocco / Hugo Albuquerque / Jean Tible / Lucio Gregori ("teórico" do Passe Livre) / Maurizio Lazaratto / Peter Pal Pelbart / Acácio Augusto (PUC-SP/Nu-Sol) / Alexandre Mendes 



Pátio do Museu de Cultura, 
Campus Perdizes da PUC-SP, 
Rua Monte Alegre n. 984, Perdizes, São Paulo

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"A multidão é plural, foge da unidade política, não firma pactos com o soberano, não porque não lhe relegue direitos, mas porque é reativa à obediência. A multidão é uma rede de indivíduos, um conjunto de singularidades contingentes. Estas singularidades não são, no entanto, uma circunstância sem nome, mas, ao contrário, o resultado complexo de um processo de individuação. Resulta evidente que o ponto de partida de toda verdadeira individuação é algo ainda não individual". Paolo Virno






6/05/2013

Política e polícia: Cuidados, controles e penalizações de jovens │ Acácio Augusto






L A N Ç A M E N T O  D O  L I V R O

Política e polícia: 
Cuidados, 
controles 

penalizações de jovens 

de Acácio Augusto


(...)

SEGUIDO DE CONVERSAÇÃO COM
Edson Passetti - nu-sol-puc-sp
Sérgio Salomão Schecaira - ibccrim-usp
Acácio Augusto - nu-sol-puc-sp


*


QUINTA FEIRA, 6 DE JUNHO, 19H30,
MUSEU DA CULTURA PUC-SP 
[Prédio sede, acesso pelo corredor s23]
Rua Monte Alegre, 984, Prédio sede,
acesso pelo corredor s23











6/02/2013

O FRAGMENTO É INDESTRUTÍVEL │Jean Luc Nancy




Giselda Leirner


Henri Michaux



Giselda Leirner






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Ele não é um objeto, não é um gênero, não faz obra. (A vontade fragmentária de Friedrich Schlegel é a vontade mesma da Obra, não voltemos a isso. Mas aquilo que Blanchot nomeia de a exigência fragmentária excede a obra, porque isso excede a vontade.)

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Fragmento: o texto é frágil. Ele nada mais é que isso [ça]. Isso quebra, isso não quebra. No mesmo lugar. Onde? Em alguma parte, sempre em alguma parte, uma parte inassinalável, incalculável.


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Está-se, portanto, errado em escrever em fragmentos sobre o fragmento (isso vale também para Blanchot). Mas que fazer de diferente? Escrever sobre uma coisa totalmente outra – ou sobre nada – e deixar se fragmentar.


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 « Isso vale também para Blanchot »: no entanto, foi a publicação de A Escrita do desastre, em julho de 1980, na nrf [Nouvelle revue française], que veio interromper, aqui, a redação de um texto totalmente outro, e aquilo que eu poderia agora, tendo-o abandonado, chamar de uma dialética suplementar do fragmento. A exigência de Blanchot era o seu guia. O texto de Blanchot o interrompeu. Eu o cito:


O fragmento, enquanto fragmentos, tende a dissolver a totalidade que ele supõe e que ele carrega rumo à dissolução de onde ele não se forma (propriamente falando), à qual ele se expõe para, desaparecendo, e, com ele, toda identidade, se manter como energia de desaparecer […]


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Uma dialética suplementar do fragmento estava, portanto, lá também em obra. Talvez não seja equivocado nomeá-la uma dialética negativa, e não se buscarão com erro secretas correspondências entre Blanchot e Adorno. Mas isso quer assim mesmo dizer que a dialética – o discurso – é indestrutível. Noli me frangere, ela ordena em todo texto, e no texto fragmentário também, e no discurso em fragmentos sobre o fragmento. Não me quebres, não me fragmentes.


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Não é somente o efeito de uma vontade de se proteger. Não mais do que o Noli me tangere da Escritura. Não me toques, diz o Cristo ressuscitado, porque tu não o poderias, porque tu não saberias aquilo que tu tocas, e porque tu crerias sabê-lo. Tu não podes nada saber nem nada querer daquilo a que se dá o nome de um corpo glorioso.

Não podemos, sobretudo, acreditar que pudéssemos saber fragmentar. Que pudéssemos conhecer nisso em fragmentos. E que pudéssemos fragmentar. Ninguém fragmenta, senão talvez esse Noli me frangere que toda escritura pronuncia: não me fragmentes, não queiras me fragmentar – isso se fragmenta e isso me fragmenta bastante, não está à medida de tua decisão.


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Tudo isso está escrito na escritura fragmentária de Blanchot. Não há nada a acrescentar, nada a cortar. Nada a dialetizar, nada a fragmentar. Sobretudo, não cair na armadilha dupla da sobredialetização e da sobrefragmentação. Blanchot suporta até o extenuamento – até não mais suportá-la – a exigência arriscada de escrever justamente entre essas duas armadilhas gêmeas. Assim, sua escrita também (e não somente seu discurso) declara: Noli me frangere. Não quebres minha insistência e meu murmúrio. Tu não tocarias mais no fragmento: ele já precedeu teu gesto e o meu, e os seguirá sempre.


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Não fales, não escrevas do fragmento. Ou tão pouco.


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Para terminar, é o fragmento (os fragmentos, a exigência fragmentária) que diz Noli me frangere. Não preservando por aí nenhum átomo puro, nenhuma obra indivisível – mas sem relação, bem simplesmente, com nenhuma operação, em nenhum sentido. O fragmento é indestrutível, quer dizer, a destruição é assegurada, e essa segurança não é uma segurança – em todo caso não é uma segurança por nenhum saber, por nenhum sujeito.


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Alguém escreve, alguém lê, alguns falam, isso toma forma, isso faz sentido, isso se acaba em obra ou em fragmentos; em obra quer dizer em fragmentos. Por esse ato, é indestrutível: uma conversação tanto quanto um poema. O que é indestrutível é a fragilidade mesma, mais miúda, mais tremente, mais insustentável que qualquer fragmentação. A fragilidade que há no tomar a palavra ou no escrever. No abrir a boca, no traçar uma palavra. Está aí, é então que isso se quebra – em nenhuma parte alhures, em nenhum outro tempo. A fragilidade de um corpo glorioso (nem transcendente nem imanente, nem teu nem meu, nem corpo nem alma) quebra uma garganta ou uma mão. Eleva-se uma palavra, um discurso, um canto, uma escritura. O corpo glorioso não cessará de neles repetir essa ordem tão frágil como uma imploração: Noli me frangere.

Jean Luc Nancy



                                                    Imagens de Giselda Leirner  -  http://www.giseldaleirner.com/site02.htm